Chrome OS é a nova arma da Google na eterna luta contra Microsoft

segunda-feira, 13 de julho de 2009


Ao anunciar que está gestando o sistema operacional gratuito Chrome , a ser lançado ano que vem, a Google desfechou terça-feira passada o mais agressivo ataque até agora contra a gigante Microsoft - e justamente no terreno em que esta é líder imbatível, com cerca de 88% dos computadores de todo o mundo rodando o seu Windows.

Ostentando o mesmo nome do navegador web lançado nove meses atrás, o novo SO (sistema operacional) foi projetado para usuários que vivem na web, buscando informações online, checando email, lendo notícias, comprando/vendendo na rede ou simplesmente mantendo contato com os amigos.

Sistema leve, rápido e com inicialização quase automática, diz o Google

Com um processo de inicialização quase imediato, a Google promete que o Chrome levará o usuário direto à web em poucos segundos, utilizando uma interface não intrusiva - ou seja, com poucos elementos visuais poluindo a tela. A maior parte da experiência do usuário se dará na própria web, o que reforça o tão falado conceito de computação na nuvem.

Ainda de acordo com as promessas, o Chrome será um sistema leve, rápido, seguro e de open source (código aberto), inicialmente voltado para netbooks. Seu código-fonte (pacote de instruções de programação escritas em linguagem humanamente inteligível e alterável) será apresentado ao público ainda este ano, e os primeiros computadores sairão de fábrica com Chrome já instalado na segunda metade de 2010. A empresa já está trabalhando em parceria com algumas grandonas do setor de tecnologia para cumprir esse cronograma: Acer, Adobe, Asus, Freescale, HP, Lenovo, Qualcomm, Texas Instruments e Toshiba. Além disso, a Google está recrutando engenheiros de software para trabalhar no sistema em seus escritórios nos EUA, Canadá, Dinamarca, Japão, Reino Unido e Rússia.

Adotando a mesma estratégia de projeto do browser homônimo, o novo SO foi desenhado do zero, com base em uma arquitetura de segurança que tirará do usuário preocupações com vírus, cavalos-de-troia e atualizações para corrigir brechas de segurança.

De acordo com o primeiro anúncio oficial ( http://tinyurl.com/post-chrome ) feito por Sundar Pichai, vice-presidente de gerência de produto da Google, e Linus Upson, diretor de engenharia da empresa (belo prenome, aliás, - Linus - para fazer tremerem os joelhos microsoftianos), o sistema rodará tanto em plataforma x86 quanto em chips ARM, sendo dotado de um novo sistema de janelas rodando sobre Linux.

OS do Google pode aquecer mercado de netbooks

Chrome fortalecerá a tendência que motivou a avalanche de novos netbooks no mercado de computadores portáteis. Todas as aplicações online já existentes funcionarão no sistema, e novas aplicações poderão ser implementadas usando a ferramenta favorita de cada desenvolvedor, de tal modo que poderão ser executadas também em qualquer outro browser aderente aos padrões da web, tanto em Windows, Mac ou Linux. Essa pluralidade de ambientes tem a vantagem de oferecer ao desenvolvedor a maior base de usuários em qualquer plataforma.

A Google faz questão de ressaltar que o Chrome é um projeto totalmente separado do Android, sistema que foi projetado para funcionar em uma variedade de dispositivos móveis, desde telefones até netbooks. Já o Chrome está sendo criado para a turma que passa a maior parte do tempo conectado à web. Ele rodará nos mais diversos tipos de computadores, desde netbooks até máquinas desktop parrudas.

Pichai e Upson reconhecem que existem áreas de sobreposição entre as funções do Chrome e as do Android, mas será a escolha dos usuários que irá determinar o rumo dos novos desenvolvimentos pela Google.

O objetivo do Chrome é permitir uma experiência mais veloz e simples no uso de computadores pessoais, armazenando ao máximo os dados na rede e tirando do usuário a preocupação de perder todas as suas informações se houver defeito no computador local. O novo SO pretende também eliminar chatices tradicionais tais como fazer backup, mexer nas configurações para cada dispositivo novo espetado na máquina e precisar frequentemente aplicar atualizações de software.

Base do Linux pode ser vantagem para o Chrome... ou não

No entanto, alguns analistas e comentaristas acham que a grande mídia estaria superestimando a gravidade da ameaça que o Chrome oferecerá ao Windows. Como exemplo, citam o Linux, SO cujo desenvolvimento começou em 1991 e até hoje não se firmou como uma oponente de peso ao Windows. O Chrome, apesar de ser um projeto funcionalmente projetado a partir do zero, é baseado no Linux.

Os defensores do novo sistema da Google alegam que, com essa origem linuxiana, ele teria uma dianteira de 18 anos de testes. Já seus detratores contrapõem que essa dianteira teria a ver apenas com o núcleo do sistema, vulgo kernel, e não com as funções que representariam o borogodó do Chrome - as que têm a ver com uso intenso de internet e aplicações web. Ou seja, o Chrome não é apenas mais uma "distribuição" de Linux. É coisa muito maior. E que demandará muito teste, feedback, retrabalho e mais teste.

Por ter o código aberto, espera-se a formação de uma comunidade de nerds movendo montanhas para aperfeiçoar o Chrome em tempo recorde. Decerto a Google tem consciência de que essa pulverização de esforços, no caso do Linux, originou o exagero de centenas de distribuições ( http://tinyurl.com/mildistros ), numa verdadeira Babel. A equipe do Chrome certamente não repetirá esse erro e controlará a evolução do sistema com rédea curta.

Projetar e implementar um sistema operacional não é um trabalho rápido. É coisa que demora anos, senão décadas. Se a equipe do Chrome começou a criá-lo há pouco tempo, então a versão a ser lançada no ano que vem será apenas um ponto de partida, do mesmo modo que o navegador Chrome em sua primeira versão não era lá grande coisa e hoje já se comporta muito melhor.

Navegador do Google ainda não conseguiu ameaçar IE e Firefox

Outro ponto a considerar é o fato de que o Chrome inicialmente tem em vista o mercado de netbooks, que é cerca de dez vezes menor que o de notebooks. Isso quer dizer que, se de fato o sistema da Google vingar e todos os usuários mundiais de netbooks o adotarem, ainda estará muito longe de ameaçar a esmagadora hegemonia da Microsoft na âmbito dos sistemas operacionais.

Transpondo a possível batalha entre sistemas operacionais para o que está acontecendo com os browsers, em que Firefox e Internet Explorer continuam como líderes disparados e o navegador Chrome segue como minoria, cabe a pergunta: quanta gente abrirá mão da relativa estabilidade do Windows e se jogar de cabeça no mundo do sistema operacional Chrome? Quanto tempo demorará para isso acontecer? E, durante esse intervalo, será que a Microsoft já não terá se reestruturado em termos de filosofia, modelo de negócio e agilidade de modo a lutar de igual para igual contra a suposta ameaça?

Outro ponto que chama a atenção é o fato do Chrome ser grátis. Isso pressupõe que a Google já tem um claro plano de como fazer dinheiro com ele de alguma outra maneira. A possibilidade mais imediata é que venha a faturar em cima dele graças ao seu esquema de anúncios AdWords/AdSense . Mas será que isso será suficiente para solapar as bases da superioridade de Redmond?

O anúncio do Chrome é uma boa notícia. O consumidor final sairá ganhando, não só pela provável redução de preços, mas também porque a disputa desencadeará nas grandes empresas de software o ímpeto de criar novas artimanhas de negócio, soluções mais espertas e estratégias mais eficientes de competição. Até agora, o mercado de sistemas operacionais para desktops era jogo de um só jogador - isso, é claro, sem levar em conta o impacto do Mac OS X da Apple, que corre por fora e tem apenas 10% do mercado.

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Produzido por Veve